A médica cooperada da Unimed Mossoró, reumatologista Dra. Patrícia
Camacho, concedeu entrevista ao Jornal De Fato falando sobre “Lúpus”.
Ela explicou o que é essa doença, quais os sintomas e como é feito o
tratamento. A matéria foi publicada na edição deste domingo, dia 29, do Jornal
De Fato.
Confira a entrevista na íntegra:
O
que é Lúpus?
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), conhecido popularmente apenas como
Lúpus, é uma doença autoimune que pode afetar principalmente pele,
articulações, rins e cérebro, mas também todos os demais órgãos.
O
que é uma doença autoimune?
Doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imunológico ataca tecidos
saudáveis do corpo por engano. Dentre mais de 80 doenças autoimunes conhecidas,
o Lúpus é uma das mais importantes.
O
paciente já nasce com o lúpus ou pode aparecer em qualquer faixa etária?
O paciente pode nascer com Lúpus ou apresentar em qualquer faixa etária,
mas é muito mais frequente em mulheres entre os 15-40 anos de idade.
Existem diferentes
tipos de Lúpus?
Sim. Existe o Lúpus Cutâneo, Lúpus Articular, Lúpus Sistêmico, e entre
eles se subdividem em Lúpus Agudo, Subagudo, Bolhoso, Paniculite Lúpica, Lúpus
Discoide. Pode até haver uma mistura, sendo cutâneo articular.
Tem
cura?
Infelizmente não tem cura, mas tem tratamento.
Quais
os sintomas?
Os sintomas do Lúpus podem surgir de repente ou se desenvolver
lentamente. Eles também podem ser moderados ou graves, temporários ou
permanentes. A maioria dos pacientes com lúpus apresenta sintomas moderados,
que surgem esporadicamente, em crises, nas quais os sintomas se agravam por um
tempo e depois desaparecem.
Os sintomas podem também variar de acordo com as partes do seu corpo que
forem afetadas pelo Lúpus. Os sinais mais comuns são: fadiga, febre, dor nas
articulações, rigidez muscular e inchaços, lesões na pele que surgem ou pioram
quando expostas ao sol, sensibilidade à luz solar, queda de cabelo, feridas
na boca e rash cutâneo - vermelhidão na face em forma de "borboleta"
sobre as bochechas e a ponta do nariz. O rash afeta cerca de metade das pessoas
com lúpus e piora com a luz do sol.
Quais
as causas?
O Lúpus ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói alguns
tecidos saudáveis do corpo. Não se sabe exatamente o que causa esse
comportamento anormal, mas pesquisas indicam que a doença seja resultado de uma
combinação de fatores, como genética e meio ambiente.
Luz solar: a exposição à luz do sol pode iniciar ou agravar uma
inflamação preexistente a desenvolver Lúpus.
Medicamentos: Lúpus também pode estar relacionado ao uso de determinados
antibióticos, medicamentos usados para controlar convulsões e também para
pressão alta. Pessoas com sintomas parecidos com os do Lúpus geralmente param
de apresentar quando interrompem o uso.
Quais
os fatores de risco?
Sexo biológico: a doença é mais comum em mulheres do que em homens.
Idade: a maior parte dos diagnósticos acontece entre os 15 e os 40 anos,
apesar de poder surgir em todas as idades.
Etnia: Lúpus é mais comum em pessoas afro-americanas, hispânicas e
asiáticas.
Qual
o especialista responsável pelo tratamento? Só o reumatologista ou uma equipe
com diferentes profissionais?
É muito importante trabalhar em equipe, com Cardiologista,
Dermatologista e Nefrologista, além do Reumatologista.
Como
é feito o diagnóstico? Existe um exame específico?
O diagnóstico é feito através principalmente do exame físico. A clínica
do paciente é muito difícil porque os sintomas mudam muito e podem até
confundir com outras doenças, mas temos exames complementares, exames de
laboratório, onde encontramos anticorpos. Inclusive em alguns casos podem ser
negativos no início e depois de um tempo apresentar positivo.
Como
é feito o tratamento?
Existe tratamento, mas não há cura definitiva para o Lúpus, assim como
outras doenças, tais como diabetes e pressão alta. O principal objetivo do
tratamento é controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas
com Lúpus.
A doença pode ser tratada com: Antiinflamatórios não esteroides, Protetor
solar para as lesões de pele, Corticoide tópico para pequenas lesões cutâneas,
uma droga antimalárica (hidroxicloroquina) e corticoides de baixa dosagem para
os sintomas de pele e artrite. Conforme o nível de acometimento, pode-se até
fazer pulsoterapias. Quando existem danos renais, outros medicamentos
utilizados são Azatioprina.
A
doença muda muito a vida, a rotina dos pacientes?
Muda sim, porque primeiro tem que aceitar que apresenta uma doença
crônica que não tem cura e muitas vezes o uso de corticoides pode ocasionar um
aumento no peso. Além disso, muda a aparência física, ocasiona uma tristeza e depressão
no paciente, principalmente nas mulheres.
Quais
cuidados o paciente tem que adotar para conviver com a doença?
Primeiro aceitar e estar disposto a tratar da maneira mais correta possível
porque, como toda doença, o paciente que toma a medicação bem direitinho tem
tendência de controlar rápido e ficar até tomando pouco remédio, mas muitos
pacientes deixam de tomar achando que estão bem e as recidivas são maiores, e
muitas vezes com complicações.
O
Lúpus pode acarretar outros problemas de saúde ou agravá-los?
Pode sim, principalmente devido aos medicamentos utilizados no
tratamento, como os corticoides, que podem ocasionar obesidade e diabetes.
Gostaria
de dizer mais alguma coisa que não foi abordada nas perguntas?
Sim, que paciente com Lúpus não deve de ter medo e sim cuidar cedo,
fazer o tratamento bem certo que tem como controlar. É mais difícil agir em
paciente que fez o tratamento de forma indisciplinada, que toma o medicamento
apenas quando quer ou não toma. Outra questão muito importante é não escutar
comentários de pessoas que não conhecem a doença em relação ao uso de
corticoides, eles fazem mal sim, mas quando são tomados sem controle.
Patrícia
Camacho Aramayo, formada em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia no
Rio de Janeiro, Reumatologia na Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ) ,
Mestrado em Reumatologia (UFRJ).
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