segunda-feira, 30 de maio de 2016

Médica da Unimed Mossoró esclarece dúvidas sobre “Lúpus”

A médica cooperada da Unimed Mossoró, reumatologista Dra. Patrícia Camacho, concedeu entrevista ao Jornal De Fato falando sobre “Lúpus”.

Ela explicou o que é essa doença, quais os sintomas e como é feito o tratamento. A matéria foi publicada na edição deste domingo, dia 29, do Jornal De Fato.

Confira a entrevista na íntegra:


O que é Lúpus?

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), conhecido popularmente apenas como Lúpus, é uma doença autoimune que pode afetar principalmente pele, articulações, rins e cérebro, mas também todos os demais órgãos.

O que é uma doença autoimune?

Doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imunológico ataca tecidos saudáveis do corpo por engano. Dentre mais de 80 doenças autoimunes conhecidas, o Lúpus é uma das mais importantes.

O paciente já nasce com o lúpus ou pode aparecer em qualquer faixa etária?

O paciente pode nascer com Lúpus ou apresentar em qualquer faixa etária, mas é muito mais frequente em mulheres entre os 15-40 anos de idade.

Existem diferentes tipos de Lúpus?

Sim. Existe o Lúpus Cutâneo, Lúpus Articular, Lúpus Sistêmico, e entre eles se subdividem em Lúpus Agudo, Subagudo, Bolhoso, Paniculite Lúpica, Lúpus Discoide. Pode até haver uma mistura, sendo cutâneo articular.

Tem cura?

Infelizmente não tem cura, mas tem tratamento.

Quais os sintomas?

Os sintomas do Lúpus podem surgir de repente ou se desenvolver lentamente. Eles também podem ser moderados ou graves, temporários ou permanentes. A maioria dos pacientes com lúpus apresenta sintomas moderados, que surgem esporadicamente, em crises, nas quais os sintomas se agravam por um tempo e depois desaparecem.

Os sintomas podem também variar de acordo com as partes do seu corpo que forem afetadas pelo Lúpus. Os sinais mais comuns são: fadiga, febre, dor nas articulações, rigidez muscular e inchaços, lesões na pele que surgem ou pioram quando expostas ao sol, sensibilidade à luz solar, queda de cabelo, feridas na boca e rash cutâneo - vermelhidão na face em forma de "borboleta" sobre as bochechas e a ponta do nariz. O rash afeta cerca de metade das pessoas com lúpus e piora com a luz do sol.

Quais as causas?

O Lúpus ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói alguns tecidos saudáveis do corpo. Não se sabe exatamente o que causa esse comportamento anormal, mas pesquisas indicam que a doença seja resultado de uma combinação de fatores, como genética e meio ambiente.

Luz solar: a exposição à luz do sol pode iniciar ou agravar uma inflamação preexistente a desenvolver Lúpus.

Medicamentos: Lúpus também pode estar relacionado ao uso de determinados antibióticos, medicamentos usados para controlar convulsões e também para pressão alta. Pessoas com sintomas parecidos com os do Lúpus geralmente param de apresentar quando interrompem o uso.

Quais os fatores de risco?

Sexo biológico: a doença é mais comum em mulheres do que em homens.

Idade: a maior parte dos diagnósticos acontece entre os 15 e os 40 anos, apesar de poder surgir em todas as idades.

Etnia: Lúpus é mais comum em pessoas afro-americanas, hispânicas e asiáticas.

Qual o especialista responsável pelo tratamento? Só o reumatologista ou uma equipe com diferentes profissionais?

É muito importante trabalhar em equipe, com Cardiologista, Dermatologista e Nefrologista, além do Reumatologista.

Como é feito o diagnóstico? Existe um exame específico?

O diagnóstico é feito através principalmente do exame físico. A clínica do paciente é muito difícil porque os sintomas mudam muito e podem até confundir com outras doenças, mas temos exames complementares, exames de laboratório, onde encontramos anticorpos. Inclusive em alguns casos podem ser negativos no início e depois de um tempo apresentar positivo.

Como é feito o tratamento?

Existe tratamento, mas não há cura definitiva para o Lúpus, assim como outras doenças, tais como diabetes e pressão alta. O principal objetivo do tratamento é controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas com Lúpus.

A doença pode ser tratada com: Antiinflamatórios não esteroides, Protetor solar para as lesões de pele, Corticoide tópico para pequenas lesões cutâneas, uma droga antimalárica (hidroxicloroquina) e corticoides de baixa dosagem para os sintomas de pele e artrite. Conforme o nível de acometimento, pode-se até fazer pulsoterapias. Quando existem danos renais, outros medicamentos utilizados são Azatioprina.

A doença muda muito a vida, a rotina dos pacientes?

Muda sim, porque primeiro tem que aceitar que apresenta uma doença crônica que não tem cura e muitas vezes o uso de corticoides pode ocasionar um aumento no peso. Além disso, muda a aparência física, ocasiona uma tristeza e depressão no paciente, principalmente nas mulheres.

Quais cuidados o paciente tem que adotar para conviver com a doença?

Primeiro aceitar e estar disposto a tratar da maneira mais correta possível porque, como toda doença, o paciente que toma a medicação bem direitinho tem tendência de controlar rápido e ficar até tomando pouco remédio, mas muitos pacientes deixam de tomar achando que estão bem e as recidivas são maiores, e muitas vezes com complicações.

O Lúpus pode acarretar outros problemas de saúde ou agravá-los?

Pode sim, principalmente devido aos medicamentos utilizados no tratamento, como os corticoides, que podem ocasionar obesidade e diabetes.

Gostaria de dizer mais alguma coisa que não foi abordada nas perguntas?

Sim, que paciente com Lúpus não deve de ter medo e sim cuidar cedo, fazer o tratamento bem certo que tem como controlar. É mais difícil agir em paciente que fez o tratamento de forma indisciplinada, que toma o medicamento apenas quando quer ou não toma. Outra questão muito importante é não escutar comentários de pessoas que não conhecem a doença em relação ao uso de corticoides, eles fazem mal sim, mas quando são tomados sem controle.



Patrícia Camacho Aramayo, formada em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro, Reumatologia na Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ) , Mestrado em Reumatologia (UFRJ).

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