Um projeto da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) conseguiu
aumentar em 43% a taxa de partos normais em 35 hospitais particulares de 11
estados. Entre os nascimentos nessas instituições, 23,8% foram por parto
normal, percentual que chegou a 34% após a participação na iniciativa. Com
isso, foram evitadas, segundo a agência, 10 mil cesarianas sem indicação em 18
meses.
O programa, que deverá agora ser ampliado, pretende conter o crescimento
do número de cesáreas, verificado nos últimos anos e ampliar o número de partos
não cirúrgicos. “Em 2005 a gente tinha 75% de cesarianas [nos nascimentos em
hospitais particulares], em 2015, estávamos com 85%. Era uma coisa crescente, e
a gente não conseguia baixar esse percentual”, diz a diretora de Desenvolvimento
Setorial da ANS, Martha Oliveira.
“A cesariana é uma cirurgia e, enquanto cirurgia, tem indicações, salva
vidas. Mas isso estava sendo usado na saúde suplementar de forma completamente
desorganizada”, destaca Martha sobre o fato de a cesárea ter se tornado a
principal forma de parto na rede privada. De acordo com a Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, só existem duas indicações
absolutas para o procedimento: a desproporção céfalo-pélvica e a apresentação
prévia da placenta.
Reorganização
Nos últimos anos, entretanto, Martha diz que o sistema de
saúde suplementar começou a dar prioridade aos partos cirúrgicos. “O trabalho
do médico fica mais facilitado quando ele agenda todas as cesarianas para uma
mesma manhã, não precisa fazer cada uma em um momento. O hospital deixa de ter
centro de parto normal e passa a ter só centro cirúrgico.”
Por isso, o projeto atuou de forma a reorganizar o modo de trabalho das
instituições participantes. “A gente precisou trabalhar a capacitação,
trabalhar modelos para isso, resgatar o plantonista nos hospitais. Resgatar o
papel da enfermeira obstetra. Resgatar a equipe de profissionais”, destaca
Martha sobre as mudanças que foram feitas.
De acordo com a médica, também foi preciso dialogar com
as gestantes. “Esse projeto nasceu de um pleito das próprias mulheres, que
entraram com uma ação civil pública. Dentro do projeto, esses grupos de
mulheres participaram. Não só elas viam quais eram os próximos passos, como a
gente aprendeu com elas muito a linguagem, a forma de falar com as mulheres.”
Além das mudanças organizacionais, foram feitas diversas
alterações nos procedimentos em relação à gestante. Evita-se o uso de
medicamentos para diminuir a dor, com o uso de outros métodos, como a
movimentação dentro do quarto. Os apartamentos são equipados com banquinhos,
bolas e banheiras para serem usados como alívio durante o trabalho de parto. As
mulheres não precisam ficar em jejum e a presença de um acompanhante é
obrigatória.
Não foi verificado aumento do índice de complicações decorrentes do
parto, como morte materna ou asfixia do bebê. Em três hospitais houve,
inclusive, redução desses eventos, de 73 casos por 1 mil nascidos vivos para 31
para cada 1 mil nascidos.
A partir dos resultados, o projeto-piloto Parto Adequado será expandido
agora para 150 hospitais de todo o país. “A gente cresce em dimensão, em número
de partos, para, em dois anos, conseguir atingir a saúde suplementar toda no
Brasil”, completou a médica.
FONTE: Agência Brasil.
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