Após sete meses registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
a vacina contra a dengue já pode ser comercializada no Brasil. O Comitê Técnico
Executivo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) determinou
que o preço da Dengvaxia, como é chamada a vacina da Sanofi Pasteur, vai variar
entre R$ 132,76 e R$ 138,53, dependendo do ICMS adotado em cada estado.
O valor determinado pela Cmed será cobrado de clínicas, hospitais e
distribuidores e deve ser bem diferente do que será cobrado pelo consumidor
final. “Os valores para um mercado privado não refletem o que vai ser
praticado. As clínicas têm taxa de aplicação, tem tributação da clínica, tem
que pagar sua estrutura. Esse preço é muito longe do que o mercado vai
trabalhar para o consumidor final. Esse é o preço de fábrica que a Sanofi vai
colocar no comércio”, explicou Renato Kfuri, vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações.
De acordo com o infectologista, o produto é um avanço, considerando que
o Brasil vivencia há muitos anos um grande problema de saúde pública devido ao
vírus da dengue. Em 2016, até 11 de junho, mais de 1,3 milhão de pessoas
tiveram dengue em todo o país e 318 pessoas morreram em decorrência da infecção
pelo vírus.
Sobre
a vacina
Fabricada pela empresa francesa Sanofi Pasteur e registada no Brasil
desde dezembro de 2015, a Dengvaxia é a primeira vacina desenvolvida contra a
dengue no mundo e só precisava da determinação do valor de fábrica para poder
ser vendida. Segundo a Anvisa, a demora ocorreu devido ao ineditismo do produto,
já que normalmente a estipulação de preços leva em conta outros produtos
semelhantes no mercado.
O imunizante é indicado para pessoas entre 9 e 45 anos, deve ser
aplicado em três doses com intervalo de seis meses entre elas. O fabricante
garante proteção contra os quatro tipos do vírus da dengue. Segundo os estudos,
a proteção é de 93% contra casos graves da doença, redução de 80% das
internações e eficácia global de pouco mais de 60% contra todos os tipos do
vírus. A capacidade de produção do laboratório é de 100 milhões de doses por
ano.
Para Kfouri, a eficácia da vacina é satisfatória e segue o padrão de
vacina como a contra varicela e contra o rotavírus, que evitam completamente
cerca de 60% dos casos das doenças, mas tem um impacto maior na redução de
casos graves, que poderiam levar a hospitalizações e à morte.
SUS
Apesar de poder ser comercializada em todo o Brasil, ainda não há
determinação sobre se a Dengvaxia será utilizada na rede pública. Para isso, o
Ministério da Saúde deve fazer estudos sobre o custo/benefício da compra e
distribuição do produto e de qual seria a estratégia de aplicação para ter
impacto em termos de saúde pública.
Para Renato Kfouri, a decisão do Ministério da Saúde de não adotar
imediatamente a vacina é adequada, já que um programa nacional de imunização
requer uma visão ampla de como a doença se comporta e de quais seriam as
estratégias de aplicação.
“A vacina tem eficácia de cerca de 60% contra os quatro tipos de dengue,
mas em termos de saúde pública, para conseguir atingir esses números, quantas
pessoas teríamos que vacinar? Todas de nove a quarenta e cinco? Crianças entre
nove e dez anos? Adultos? Quem devo vacinar? Que quantidade de vacinas tenho a
oferecer? Quantas seriam necessárias para um bom impacto? Com quantos
indivíduos vacinados terei impacto?”, questionou o especialista.
Ele ressalta ainda que as estratégias de vacinação em adultos costumam
ser bem menos eficazes do que as que têm como público alvo as crianças, já que
a adesão é frequentemente menor.
Desta forma, como uma ação individual, de quem pode pagar, a vacina é
uma boa estratégia de prevenção, porém, para a introdução em um programa de
imunizações são necessários estudos mais aprofundados. “Em nível de saúde
individual, em clínica privada, é um ganho enorme, revoluciona, mas a posição
do Ministério da Saúde foi cautelosa e adequada”, pontuou Kfouri.
FONTE: Portal No Ar.
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