Em entrevista à Agência Brasil, o epidemiologista e
secretário-geral da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose, Luciano
Pamplona, disse que o Aedes aegypti já pode ser considerado um
mosquito doméstico. “Ele é praticamente um bichinho de estimação”, disse
Pamplona, que também é professor da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Ceará (UFC).
Dados do Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), do
Ministério da Saúde, apontam que, no Nordeste, o principal tipo de criadouro do
mosquito são tonéis e caixas d’água. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o
depósito domiciliar, categoria em que se enquadram vasos de plantas e garrafas,
predomina como criadouro do vetor. No Norte e no Sul, a maior parte dos
criadouros do mosquito está no lixo.
Confira
abaixo a entrevista com o especialista:
Agência Brasil: O Aedes aegypti se
adaptou ao longo dos anos?
Luciano Pamplona: Com certeza.
Registros de 40 ou 50 anos atrás indicam que, naquela época, ele estava se
tornando um mosquito urbano. Essa transição aconteceu de forma bastante
acelerada. Hoje, ele é um mosquito doméstico, totalmente adaptado aos nossos
hábitos domiciliares. A principal prova disso é o mapa com os principais
criadouros do país. Em torno de 80% a 90% dos focos do vetor estão dentro das
casas das pessoas.
Agência Brasil: O Aedes já
se reproduz em água suja e não mais apenas em água limpa?
Pamplona: O que é água
limpa pra você? Para o mosquito, é apenas uma água que não tem matéria orgânica
em decomposição e que não está turva. Isso basta. Em uma fossa, por exemplo,
quando o sedimento desce, a água se torna limpa para ele. Por isso, a definição
de água limpa para o mosquito é muito relativa. E mais: se não houver um
recipiente com água limpa, ele procura a menos limpa, até chegar ao esgoto.
Tudo pode se transformar em foco.
Agência Brasil: Qual o ambiente
considerado ideal pelo Aedes para se reproduzir?
Pamplona: Muita gente
acha que a fêmea do mosquito coloca o ovo na água, mas, na verdade, ela coloca
na parede dos depósitos. Ela precisa que o recipiente tenha paredes. Por isso,
não pode colocar ovos em rios, por exemplo. O fato de a água estar parada ou
não influencia pouco. Mas a fêmea tem sim preferência por água parada, locais
mais escuros, paredes porosas que fixem melhor os ovos e pouco movimento. São
esses os depósitos predominantes para o mosquito.
Agência Brasil: É verdade que o Aedes já
consegue chegar a alturas mais elevadas?
Pamplona: Quem mora em
apartamento chega em casa de que forma? Pelo elevador. E o mosquito faz isso da
mesma maneira que nós. Na prática, o fato de não voar grandes altitudes não
impossibilita que ele chegue até locais mais altos. Como nós, ele também sobe
de elevador, anda de carro, viaja de avião. O mosquito se locomove utilizando
os mesmos mecanismos que a gente. Onde a gente vai, ele vai atrás.
Agência Brasil: O Aedes é
capaz de espalhar o vírus Zika de forma mais rápida que a já conhecida dengue?
Pamplona: Vivemos um
momento de muita especulação. Sabe-se pouca coisa sobre o Zika. É uma doença
que de pouquíssima gravidade e que, em 80% dos casos, não causa nenhum sintoma.
As três pessoas que morreram por Zika podem ter fatores associados e que
provavelmente contribuíram para o óbito. No caso da dengue, temos mais de 800
pessoas morrendo por ano no Brasil. O fato é que ainda temos muito mais
perguntas que respostas. Creio que vamos demorar um bom tempo estudando o vírus
Zika.
FONTE:
Agência Brasil.
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